domingo, 26 de abril de 2020

A degradação humana em Alang – India, revela a face aterradora do capitalismo em desmanches de navios


São milhares de trabalhadores, grande parte formada por menores de idade, que trabalham 14 horas/dia para ganhar o equivalente a R$ 15,00 em desmanches de navios de todos os tamanhos, na costa indiana

São cerca de 700 grandes navios por ano, entre cargueiros, petroleiros, porta-contêineres e até ex-luxuosos transatlânticos de passageiros, que são desativados, desmanchados e transformados em sucata em todo o mundo. No entanto, mais da metade deles acabam os seus dias num só lugar: uma pobre e lamacenta praia da Índia, chamada Alang, dona do maior desmanche naval do planeta – e que, por isso mesmo, é considerada o maior cemitério de navios do mundo. 

Todos os dias, velhos navios chegam à localidade para serem desmantelados, reciclados e vendidos como ferro-velho – um serviço necessário e economicamente útil, não fosse a forma como ali isso é feito: manualmente, por milhares de trabalhadores. 

Quando a maré baixa, os navios ficam encalhados a centenas de metros dos depósitos e o caminho até eles vira um penoso lamaçal, que torna ainda mais difícil trazer suas pesadas placas de aço no braço. Uma simples placa de aço de meia dúzia de metros quadrados pesa cerca de meia tonelada, mas, ainda assim, é carregada, nos ombros, por uma dezena de trabalhadores, chafurdando na lama, do navio até o depósito. São como escravos. Um trabalho insano, pago com migalhas de rúpias indianas. 

Trabalho escravo 


Na média, um trabalhador de Alang recebe o equivalente a menos de R$ 15,00 por dia, para 14 horas seguidas de trabalho. Cerca de um terço deles são meninos, entre 15 e 17 anos de idade. As frouxas leis trabalhistas nos estaleiros de Alang sempre geraram, e continuam gerando, reclamações e protestos no mundo inteiro. "Alang é um bom exemplo do que de pior a globalização pode trazer para a humanidade", diz um defensor das questões trabalhistas do setor. "É para onde as nações desenvolvidas mandam o seu lixo, que, hipocritamente, julgam que irá ajudar os países mais pobres a se desenvolverem". 


Tudo o que é retirado dos navios sucateados em Alang é vendido ali mesmo, o que torna as ruas uma interminável sucessão de ferros velhos, visitados por compradores do mundo inteiro. É um negócio que fomenta muito dinheiro, mas apenas para os donos dos estaleiros – os mesmos que não costumam permitir fotografar nem filmar os trabalhadores, para que não fique documentado a forma precária como eles trabalham. 

Não bastasse toda a precariedade da atividade, poucos usam luvas e capacetes e quase todos vestem sandálias de borracha, em vez de botas adequadas. Os operadores de maçaricos, instrumento básico na atividade, passam o dia desviando das faíscas que pulam das chapas de aço, sem, muitas vezes, sequer usarem óculos de proteção.

Fonte: historiasdomar.blogosfera.uol.com.br


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