
“Joaquim”, de Marcelo Gomes, conta a história dos acontecimentos e fatos que levaram Joaquim José da Silva Xavier, um dentista comum de Minas Gerais, a se tornar mais conhecido pela alcunha de Tiradentes
O personagem se transformou em um importante herói nacional e mártir que veio a liderar o levante popular conhecido como "Inconfidência Mineira". Na narrativa de Marcelo Gomes, Joaquim se abre de maneira chocante, com uma cabeça decapitada sob a chuva torrencial.
O narrador-defunto se apresenta como Joaquim José da Silva Xavier, vulgo Tiradentes, que foi decapitado por traição à Coroa portuguesa e passou a ser estudado nas escolas como herói (sim, o falecido está consciente da futura apropriação cultural de sua imagem).
O início converge tempos históricos, rompe com a cronologia narrativa e com a contextualização dos fatos. A radicalidade é ainda maior por se tratar de uma biografia, gênero pouco afeito às desconstruções estruturais. Aos poucos, a narrativa se acalma, embora mantenha uma linguagem cinematográfica viva, com câmera na mão acompanhando os personagens, cores fortes no retrato da natureza e diálogos ágeis, contrariando o imaginário do comportamento empostado atribuído às relações sociais no século XVIII.

Assim ocorre o despertar político do protagonista, fundamental aos acontecimentos que lhe trariam o rótulo popular de herói. Gomes interrompe o filme antes de Tiradentes se tornar um mito, afinal, seria redundante a representação do imaginário popular. Que o espectador imagine as suas batalhas, a cena de decapitação, as conclusões da Inconfidência Mineira. Ao invés de criar o Tiradentes-herói, o roteiro investiga os motivos para a conversão de Joaquim em militante.
O personagem se transformou em um importante herói nacional e mártir que veio a liderar o levante popular conhecido como "Inconfidência Mineira". Na narrativa de Marcelo Gomes, Joaquim se abre de maneira chocante, com uma cabeça decapitada sob a chuva torrencial.
O narrador-defunto se apresenta como Joaquim José da Silva Xavier, vulgo Tiradentes, que foi decapitado por traição à Coroa portuguesa e passou a ser estudado nas escolas como herói (sim, o falecido está consciente da futura apropriação cultural de sua imagem).
O início converge tempos históricos, rompe com a cronologia narrativa e com a contextualização dos fatos. A radicalidade é ainda maior por se tratar de uma biografia, gênero pouco afeito às desconstruções estruturais. Aos poucos, a narrativa se acalma, embora mantenha uma linguagem cinematográfica viva, com câmera na mão acompanhando os personagens, cores fortes no retrato da natureza e diálogos ágeis, contrariando o imaginário do comportamento empostado atribuído às relações sociais no século XVIII.

Assim ocorre o despertar político do protagonista, fundamental aos acontecimentos que lhe trariam o rótulo popular de herói. Gomes interrompe o filme antes de Tiradentes se tornar um mito, afinal, seria redundante a representação do imaginário popular. Que o espectador imagine as suas batalhas, a cena de decapitação, as conclusões da Inconfidência Mineira. Ao invés de criar o Tiradentes-herói, o roteiro investiga os motivos para a conversão de Joaquim em militante.
Mesmo assim, não se dedica tanto à transformação interna do personagem num rebelde: novamente, prefere as manifestações externas à psicologia. Por isso, a conversão de Tiradentes pode soar abrupta, assim como os encontros com o Poeta são os únicos realmente artificiais, com diálogos explicativos e entonação solene demais.
Felizmente, Joaquim se conclui de modo tão selvagem quanto começou. Pode ser uma solução frustrante no que diz respeito à fluidez narrativa, mas trata-se de uma escolha potente como simbologia e discurso político, capaz de convocar o espectador à revolta social diante de qualquer opressão, inclusive em tempos contemporâneos. Sacrificando o ritmo e a coesão pela complexidade do discurso, Joaquim ousa ser excessivo, fervoroso, um projeto contrário aos moldes tradicionais e surpreendente em sua revisão da formação do país.
Filme visto no 67º Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2017.
Fonte: Adoro Cinema
Felizmente, Joaquim se conclui de modo tão selvagem quanto começou. Pode ser uma solução frustrante no que diz respeito à fluidez narrativa, mas trata-se de uma escolha potente como simbologia e discurso político, capaz de convocar o espectador à revolta social diante de qualquer opressão, inclusive em tempos contemporâneos. Sacrificando o ritmo e a coesão pela complexidade do discurso, Joaquim ousa ser excessivo, fervoroso, um projeto contrário aos moldes tradicionais e surpreendente em sua revisão da formação do país.
Filme visto no 67º Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2017.
Fonte: Adoro Cinema
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