
Sem qualquer razão aparente, resolvi rever uma das melhores produções da TV brasileira de todos os tempos, - acreditem, ela já fez algumas coisas boas, - o teleteatro musical Morte e Vida Severina, exibido em 1981, dirigido por Walter Avancini, com versos do inigualável João Cabral de Melo Neto (de seu auto homônimo) e música do não menos laureado Chico Buarque.
O musical aproveita parte do elenco do filme de 1977, de Zelito Vianna e traz o ator que, para mim, é o protótipo do Nordestino, José Dumont. Destaque ainda para uma Elba Ramalho ainda com voz estridente, - tinha lançado o seu disco Ave de Prata, dois anos antes, em 1979, - o excelente Sebastião Vasconcelos e Tânia Alves, como ‘carpideira’, (palavra de origem hebraica que significa aquelas que são como fontes de lágrimas), uma lúgebre profissão que é chorar nos velórios alheios. Numa das falas de Tânia Alves, o célebre texto da música de Chico Buarque, “Funeral de um lavrador”: “É a parte que te cabe deste latifúndio...”.
Já no diálogo rimado entre Elba Ramalho e José Dumont, um retrato do cenário da fome e da miséria do agreste pernambucano. Quando Severino Retirante indaga do que vive a sua interlocutora, a resposta nua e crua: “como aqui a morte é tanta, vivo da morte ajudar...”. Apesar das quase quatro décadas, vale a pena rever muitas vezes o atualíssimo texto de um dos maiores poetas da terra de Luiz Gonzaga, João Cabral de Melo Neto!
Euriques Carneiro
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