domingo, 4 de setembro de 2016

Aos 78 anos, Martinho da Vila lança disco de inéditas "para se ouvir e não para sambar"


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Apesar do jeito "devagar, devagarinho", Martinho da Vila sempre foi um artista inquieto. Ao longo dos quase 50 anos de carreira, o cantor e compositor sempre transitou por diferentes vertentes do samba, flertou com ritmos africanos, cantou em francês e brindou o Carnaval carioca com alguns de seus mais inesquecíveis sambas-enredo

Aos 78 anos, está de volta com um disco composto de material inédito – o que ele não fazia há 9 anos. Nesta sexta-feira, chega às lojas de todo o país "De bem com a vida". Como bem diz o cantor, é um álbum feito para se ouvir e não para sambar. "Todo disco meu tem um conceito e, depois de tanto tempo sem trazer novas músicas, optei por fazer um disco para se ouvir, para quem gosta de apreciar a musicalidade. A maioria das músicas tem apenas violão, cavaquinho e pouquíssima percussão", explica Martinho. A ideia, segundo o sambista, é reproduzir o clima de seu primeiro disco, lançado em 1969. "Naquela época não tínhamos muita parafernália para gravar e o resultado foi ótimo. Mas, logo no segundo LP ("Meu Laiaraiá" – 1970), eu meti orquestra. Foi uma revolução", explica.

O novo disco de Martinho é De Bem Com a Vida, com músicas inéditas depois que o sambista passou nove anos sem um novo trabalho conceitual. Se estivesse nos anos em que as gravadoras imortalizavam canções, várias delas ficariam para a posteridade. Além do formato de cordas e pouca percussão, Martinho conta com parceiros de luxo (como João Donato, Jorge Mautner e Arthur Maia) e com a produção de André Midani, o lendário ex-diretor das gravadoras Philips e Warner, que estava há três décadas longe dos estúdios. "Quando o convidei, ele respondeu dizendo que estava há muito tempo sem ir para o estúdio. E que nunca havia feito um disco de samba". 


Pois o álbum que reconduz Midani ao mercado e Martinho às inéditas é inspirado. Escuta, cavaquinho!, a primeira, é fruto de uma parceria com Geraldo Carneiro, na qual o violão faz uma declaração para o cavaco. Na sequência, Choro chorão é um chorinho de 1976 e, Danadinho danado (com Zé Catimba) foi lançada pela cantora Simone em 1995.

"Disritimia" e suas crias


O clássico 'Disritimia', lançado pelo sambista em 1974 no disco Canta Canta Minha Gente, dá dois frutos no novo repertório. O primeiro veio de um pedido da cantora Roberta Sá, chamada Amanhã é Sábado, que ela lançou em Delírio, de 2015. Roberta queria que Martinho fizesse uma canção, desta vez, para uma mulher cantar. Ele aproveitou e criou Disritmia às avessas, com a mulher chegando exausta do trabalho, pedindo colo ao marido. "Estou um bagaço, amor / Preciso de colo / Preciso de colo amor, estou em bagaços".

Com Carlinhos Vergueiro, Martinho fez Desritmou, outra cria de Disritmia. "Encontrei meu ex-amor / A mulher que eu sempre amei / E jamais deixei de amar / Mesmo estando distante / Ela me abriu os braços / Com sorrisos me saudou / Eu fiquei emocionado / Meu coração desritmou". Mas a tal mulher se revela outra, modificada pelo tempo, e o narrador se entrega à decepção.

O samba, como o rap, sempre foi machista, lembra Martinho. "O País sempre foi, e os compositores sempre foram mais homens. Basta lembrar de Amélia (de Mario Lago)". Além do novo disco, Martinho passou pela Bienal do Livro, na última quarta, para falar sobre seu novo romance, Barras, Vilas e Amores, sua terceira ficção dentre os 14 livros que já lançou. "Criei uma história fictícia, mas muito possível de acontecer"

Raízes africanas

O flerte com os ritmos africanos, uma das marcas do trabalho de Martinho, aparece em "Do Além", composta em parceria com Arthur Maia. Já o samba-enredo, subgênero em que se notabilizou e retomou a produção nos últimos anos, emplacando algumas vitórias em sua Unidos de Vila Isabel (em 2010, 2013 e 2016), não marca presença neste álbum. Segundo Martinho, por fugir ao conceito mais intimista. Por sinal, por conta da divulgação do disco, o cantor não participará da disputa de sambas da sua escola de coração para o próximo Carnaval. "Quando ganho o samba, me envolvo demais com a Vila. Preciso dar um pouco mais de atenção à minha carreira".

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