quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Denso, mas bastante enriquecedor: ‘Oblomov’, escrito em 1847, pelo russo Ivan Gontcharov


  

Para os menos iniciados na literatura russa, os nomes que vêm à mente são os de Dostoievski, Tolstoi, Puchkin... mas as letras daquele frio país tem outros valorosos representantes que não gozam da mesma fama mas são autores de obras com grande valor literário

Existem muitos outros - alguns contemporâneos dos clássicos conhecidos entre nós - como é o caso de Ivan A.Gontcharov - o autor em questão, e outros nossos contemporâneos, todos excelentes, mas parcialmente conhecidos ou até totalmente desconhecidos no Brasil.

Dentre esses que não são tão conhecidos no Brasil, encontra-se Ivan Gontcharov, autor do célebre ‘Oblómov’. O toque magistral de Oblómov é que mesmo esse ritmo lento da leitura, esse “arrastar-se” da história, ajuda a compor o quadro que o autor quer colocar diante dos nossos olhos, e se harmoniza perfeitamente com a obra em si.

Alguns críticos, apontam a falta de enredo de “Oblómov” – no sentido em que não há, rigidamente falando, uma HISTÓRIA estruturando o livro – é o seu enredo. Porque a vida de Oblómov se passa assim: um dia depois do outro, numa repetição infinita, sem grandes mudanças, sem grandes eventos – pouca coisa que mereça ser objeto de uma narrativa.

O AUTOR


Ivan Gontcharov foi um escritor de início tardio na literatura e de poucas obras, com só três grandes romances (além da produção juvenil), destacando-se, dentre eles, Oblómov como sua obra principal.

Ele foi solteiro a vida toda, após uma suposta desilusão amorosa, e era funcionário público de carreira – provavelmente por ele caricaturiza tanto o serviço público em seu livro. Diz-se que era caseiro, desconfiado, e no fim da vida ficou meio paranoico e arranjou encrencas com outros escritores contemporâneos.

Diz-se que ele apreciava o conforto e a boa mesa e era, inclusive, fisicamente parecido com Oblómov. Nada a surpreender – todo personagem sempre tem uma gota de autobiográfico. Além disso, ele teria retratado ironicamente no fim do livro, como o “literato gordinho” que passeava com Stolz, e a quem o personagem contou sobre Oblómov.

A HISTÓRIA


Iliá Ilitch Oblómov é um rico senhor de terras que vive, na capital, das rendas que lhe mandam de sua propriedade campestre. Ele não sabe fazer nada; foi educado à força, tentou alguns ramos de trabalho e não se adaptou, não se adaptou à Sociedade (bailes, festas, visitas, fofoca) e, com cerca de 30 anos quando nos encontramos com ele, está mofando em sua casa, seu divã e seu roupão. Sua vida transcorre entre uma refeição e outra, uma soneca e outra, rotina interrompida por visitas ocasionais que trazem notícias do mundo de fora, as quais Oblómov escuta pacientemente, sem muito interesse e sem se agitar. A agitação, aliás, é uma coisa que lhe causa repulsa.

Toda a primeira parte do livro transcorre em um dia na vida de Oblómov, onde somos apresentados a seus conhecidos, a seu criado Zakhar (uma interessante figura, moldada no mesmo tecido de seu patrão, ainda que em outra classe social), e aos problemas e projetos de Oblómov. Melhor dizendo, ao projeto: o sonho de reformar e reformular sua propriedade rural, Oblómovka, que está entregue na mão de administradores não dos mais honestos, e mudar-se pra lá, quem sabe com uma esposa, pra levar a vida calma e prazerosa que viveu em sua infância. Oblómov pensa e repensa em seu “plano” para Oblómovka, que constitui toda a sua vida intelectual, mas nunca o conclui.

Ao final da história, descobre-se que Oblómov está exatamente como tinha sido deixado; vivendo na casa da proprietária, mas até que bem, considerando que agora recebe muito mais renda da sua propriedade, que ele arrendou a Stolz e este botou em ordem. Descobrimos que seu estilo sedentário lhe causou alguns ataques do coração, e que a proprietária Pchenítsina vem tentando, sutilmente, prolongar-lhe a vida por meio de modificações da dieta e obrigando-o a exercícios leves. Descobrimos, por fim, que ele se casou com Agáfia Matviéievna e teve um filho com ela, chamado Andrei! Quando o Andrei original, Stolz, descobre sobre isso, ele dá Oblómov por perdido, arrastado para uma condição inferior à sua, e desiste de tentar modificá-lo – prometendo, todavia, não esquecer do pequeno Andrei.

Pouco depois, Oblómov morre, prosaicamente, em um ataque apoplético decorrente de sua vida sedentária; pode-se dizer até que morreu de obesidade. A morte de Iliá não é descrita como nenhuma grande tragédia, e, no entanto, fica difícil não se emocionar com a saga do gordinho afável que, ao longo da narrativa, acaba se tornado amigo do leitor

E a todo esse infortúnio, mas ao próprio estilo de vida pachorrento, Stolz sentencia dando o nome de “Oblomovismo”.

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