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“Nossa juventude”, um dos mais importantes acontecimentos de fotografia que ocorreu, em Moscou |
Fotógrafo da antiga União Soviética, Vladimir Lagrange registrou, em incríveis imagens em preto e branco, aspectos do cotidiano urbano e rural do estado socialista, com extrema delicadeza e sem estéticas ideológicas. Para apresentar esta obra tão singular, a Caixa Cultural de São Paulo inaugurou no dia 25 de julho, a individual “Assim Vivíamos”, que reúne 65 imagens. Com curadoria de Luiz Gustavo Carvalho, a mostra é a primeira exibição do trabalho do fotógrafo na América Latina.
“É uma oportunidade única para o público carioca conhecer mais profundamente o cotidiano da vida na antiga União Soviética através de uma testemunha sensível e direta. Na obra de Lagrange, encontram-se drama e humor, além de uma perene compaixão pelo ‘homem simples’, retratado pelo fotógrafo por meio de uma linguagem visual profunda e singular”, afirma Luiz Gustavo.
Em um período marcado pela forte censura, Lagrange optou por retratar a humanidade dos seus conterrâneos em sua obra. Até nas cenas “oficiais”, seu trabalho se diferenciava dos demais fotógrafos ao escolher enquadrar o indivíduo em vez das multidões.
“Como aconteceu com diversos artistas durante a história soviética, a censura sofrida por Vladimir Lagrange era muito grande. Certa vez, fez uma foto de um minerador com cara suja, e esta foto foi imediatamente criticada e censurada pelo editor da revista, que disse que o homem soviético não era assim. A sinceridade artística e o respeito de Vladimir pelos seus personagens são visíveis nas pessoas bonitas, heróicas, amantes de trabalho e, ao mesmo tempo, muito sofridas e infelizes com o regime”, explica o curador.
Trajetória
Lagrange iniciou o seu trabalho como foto jornalista, em 1959, aos 20 anos de idade, na agência de notícias TASS. Em 1962, suas fotografias foram escolhidas para integrar a exposição “Nossa juventude”, um dos mais importantes acontecimentos de fotografia que ocorreu, em Moscou, naquele ano.
Em uma de suas obras, Lagrange retratou a Praça Vermelha, que até então representava uma potência bélica opressora do regime soviético, enquadrando jovens numa comemoração escolar com o símbolo da paz, ao invés dos cenários típicos, o que representou uma quebra de dogmas na época.
Vladimir contribuiu para diversas revistas soviéticas. Durante 25 anos, trabalhou na revista “União Soviética”, a principal publicação do país dedicada à sociedade e à política, editada em 21 línguas e distribuída em mais 130 países.
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