quinta-feira, 6 de março de 2014

Hayao Miyazaki se despede do cinema animado com filme lúdico, sem elementos de fantasia ou ficção científica



Jiro Horikoshi, vive em uma cidade do interior do Japão. Um dia, ele tem o sonho de estar voando em um avião com formato de pássaro. A partir desse sonho, ele decide que construir um avião e colocá-lo no ar é a meta da sua vida

Durante a busca pelo seu sonho ele conhece Naoko, uma jovem encantadora por quem se apaixona. No entanto, Naoko fica profundamente doente, sem saber se sobreviverá"Laputa - o Castelo no Céu" (1986) se passa boa parte do tempo em ambientes aéreos. Em outros trabalhos, como "Nausicaä do Vale dos Ventos" (1984) e "Porco Rosso" (1992), é possível, inclusive, sentir um frio na barriga em algumas cenas de voos. E Miyazaki consegue isso utilizando uma animação tradicional, sem uso da tecnologia 3D ou truques semelhantes.

 "Vidas ao Vento" é um trabalho sobre a história real de um rapaz apaixonado por aviação, que se passa nas décadas de 1920 e 1930, em que alguns momentos importantes da história do Japão são mostrados, como o grande terremoto em Kanto, a Grande Depressão, a epidemia de tuberculose e a entrada do país na Segunda Grande Guerra.

A anunciada despedida do cineasta Hayao Miyazaki se dá justamente em um filme sem elementos de fantasia ou ficção científica, tão característicos de seu cinema. E o impressionante disso é que "Vidas ao Vento" (Kaze Tachinu, 2013), indicado ao Oscar de melhor animação, é um filme com a cara de seu diretor, que já havia mostrado em diversos outros trabalhos a sua fascinação pelo voo.

Apesar de o filme se deter mais na vida profissional e na obsessão de Jiro pela aviação, que o leva a construir aviões destinados à Segunda Guerra Mundial, é o romance de Jiro e Nahoko que mais mexe com as emoções do público.

Delicadeza

Os traços dos desenhos seguem uma linha quase tão simples quanto a de "Ponyo - uma Amizade Que Veio do Mar" (2008), diferente, por exemplo, dos traços finos e mais caprichados de "Princesa Mononoke" (1997) e "A Viagem de Chihiro" (2001). Mas isso em nenhum momento atrapalha a apreciação.

Até porque algumas imagens são de uma beleza impressionante, inclusive as mais trágicas. Há uma sequência que mostra, numa visão de cima, em um travelling que amplia o plano, um grupo de moças tuberculosas em um hospital situado em uma montanha, referência à "A Montanha Mágica", de Thomas Mann.

"Vidas ao Vento", porém, pode desagradar a muitos que não ligam para aspectos técnicos da aerodinâmica de aviões. Porém, como se trata de uma paixão do personagem (e do cineasta), é bom se deixar contagiar um pouco com o entusiasmo.

A distribuidora brasileira, Califórnia Filmes, decidiu lançar o filme apenas em cópias legendadas. Afinal, trata-se de uma animação para adultos e adolescentes. Isso acaba sendo uma oportunidade de ouro para quem nunca teve a oportunidade de ver um Miyazaki com o áudio original.

Quanto ao aspecto da Segunda Guerra Mundial e de o filme não questionar enfaticamente o uso dos aviões para fins não muito nobres, digamos que "Vidas ao Vento" prefere crer que a escolha do Japão em se aliar aos países do Eixo foi uma infelicidade.

E que os soldados, apesar de terem se transformado em máquinas a serviço de um imperador terrível, eram, acima de tudo, homens obstinados e corajosos.

Fonte: diariodonordeste

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