Em meados dos anos 70, a
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS iniciava suas atividades
acadêmicas e nós calouros exibíamos garbosos as camisetas com a estampa do Che
Guevara e a célebre frase "Hay
que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás"
Nestes tempos de Yoani Sánchez
causando o maior frisson nas suas andanças pelo Brasil, lembrei-me de um texto
que li há alguns meses, o qual disponibilizo para os amigos que nos acompanham
neste espaço cultural. As opiniões externadas por Álvaro Vargas Llosa são fruto
das suas convicções e, não necessariamente exprimem o ponto de vista do
Artecultural.
Euriques Carneiro
“Enlouquecido com fúria irei
manchar meu rifle de vermelho ao abater qualquer inimigo que caia em minhas
mãos! Minhas narinas se dilatam ao saborear o odor acre de pólvora e sangue.
Com as mortes de meus inimigos eu preparo meu ser para a luta sagrada e me
junto ao proletariado triunfante com um uivo bestial.” Esse trecho foi tirado
do "Diário de Motocicleta", do argentino Che Guevara, aquele mesmo
que falava em “não perder a ternura”. Não se sabe bem por que essa passagem não
foi incluída no filme de Walter Salles, que evidentemente pinçou do livro
trechos bem menos comprometedores.
Che Guevara é, curiosamente,
conhecido como “heróico guerrilheiro”, quando na verdade não participou de
nenhuma batalha verdadeira na guerrilha em Cuba. Quando Fidel Castro, louco
para livrar-se do argentino (que foi um desastre como ministro da Indústria),
despachou Che para lutar no Congo e depois na Bolívia, ele pôde finalmente
sentir na pele a dureza de um verdadeiro confronto a bala: quase perdeu a vida
no Congo, e acabou morto na Bolívia.
Álvaro Vargas Llosa, filho do
aclamado escritor Mário Vargas Llosa e co-autor do “Guia do Perfeito Idiota
Latino-americano”, escreveu recentemente sobre os mitos que mantém o culto a
Che Guevara vivo. Entre eles, está a crença de que Guevara lutava pela “justiça
social”. Não é bem verdade, diz Vargas Llosa: “em realidade, ele ajudou a
arruinar a economia de Cuba ao desviar recursos para indústrias que terminaram
em fracasso, ajudando a reduzir a produção de açúcar, o principal produto
cubano, pela metade em dois anos. Foi durante sua passagem pelo comando da
economia cubana que o racionamento começou na ilha”.
Outro mito, segundo Álvaro
Vargas Llosa, é o de que Guevara tinha uma conexão especial com os camponeses,
quando “ele morreu precisamente porque nunca conseguiu conectar com eles”. Em
seu diário boliviano, Che escreveu que “as massas camponesas não nos ajudam em
nada”. A tentativa de fomentar uma revolução no interior da Bolívia foi um
fracasso tão grande que nem o partido comunista do país quis se juntar a
Guevara, observa Vargas Llosa.
O pior mito, na opinião do
escritor peruano, é o de que as aventuras de Che Guevara foram “uma celebração
de vida”. Uma descrição mais próxima da verdade, defende Álvaro, seria “uma
orgia de morte”. Vargas Llosa lembra que Che matou muitos inocentes em Santa
Clara, na região central de Cuba, onde sua coluna esteve acampada no estágio
final da revolução fidelista. O peruano também lembra da entusiasmada
participação do Che na execução de centenas de prisioneiros no presídio La
Cabana (onde, dizem, os gritos de “Viva Cuba Libre” dos executados se ouviam
até no meio da noite). A verdade inescapável é que um mundo em que Che Guevara
é considerado um herói visionário é um triste mundo. Está na hora de começar a
destruir mais esse mito esquerdista.
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Alvaro Vargas Llosa: ácido crítico de Che Guevara |