Início
dos anos 80, Vital Farias e Jatobá, compõem músicas de protesto contra a
agressão à natureza, notadamente quanto ao desmatamento das nossas florestas
As músicas tornaram-se hinos de protesto ecológico, quando ainda se pensava
muito pouco no assunto.
No
mundo contemporâneo, mais que modismo, é absolutamente necessário ter ações e
atitudes que primem pelo respeito ao meio ambiente e preocupem-se com a
sustentabilidade. Grande parte das pessoas já se pensam o futuro e repensam o
planeta que vamos deixar para as gerações que virão depois de nós.
Empresas
que trazem na sua missão o sentido da sustentabilidade, já utilizam o fato do
candidato a emprego ter atitudes sustentáveis como fator de desempate em
certames de seleção. Os grandes mercados consumidores da ocidente já rejeitam
produtos cujos fabricantes exploram mão de obra infantil ou tenham na sua linha
de produção, qualquer processo que agrida a natureza.
Trata-se de conceitos que
vão se difundindo mundo afora e o próprio mercado vai expurgar empresas que não
se enquadrem no perfil de sustentabilidade. As grandes corporações já
incluem no seu planejamento estratégico o “balanço social”. Nele constam as
ações sociais da empresa, como os programas de apoio a entidades beneficentes,
tratamento e reaproveitamento de água, economia de energia, reciclagem de lixo,
recuperação de áreas degradas, entre outras.
Só
que nós estamos falando de hoje, de 2012, quando estas questão estão sendo
amplamente discutidas. Semanalmente, as revistas de circulação nacional trazem
matérias sobre o assunto e os telejornais diários estão sempre exibindo
reportagens que abordam a conservação do meio ambiente, o respeito à
biodiversidade e exemplos de ações sustentáveis.
VITAL
FARIAS E JATOBÁ: VANGUARDISTAS
Lá
no início da década de 80, dois compositores, o baiano Jatobá e o paraibano
Vital Farias, compuseram as duas obras de arte (vide as letras das músicas no
final desta matéria), que já expressavam a preocupação dos artistas com a
degradação das espécies, a preservação da natureza e a sustentabilidade das
ações do homem. Era uma visão vanguardista dos dois poetas que, além de
construírem duas belíssimas letras, ainda conclamavam as pessoas a repensarem
as suas atitudes, sob pena de inviabilizarem a vida no planeta para as gerações
vindouras.
As
músicas “Saga da Amazônia” e “Matança”, espelham aquela afirmação sobejamente
conhecida: “música não tem idade...”. Falar de ecologia hoje, quando o assunto é
palpitante e presença obrigatória em todos os meios, - acadêmicos e ou não, - é
fato corriqueiro. O grande mote de Vital Farias e Jatobá, foi ter abordado o
tema há 30 anos, quando pululavam pelo país as carvoarias, (dizimando a madeira
e manchando indelevelmente os pulmões dos carvoeiros), a exploração desenfreada
da mão de obra infantil e a poluição galopante dos rios e mananciais, entre
outras mazelas que agrediam natureza e seres humanos. “Matança” foi gravada por
Xangai e “Saga da Amazônia” foi sucesso na voz de Elba Ramalho, além da
gravação do próprio Vital Farias.
Euriques Carneiro
Quem hoje é
vivo, corre perigo...
Saga
da Amazônia
(Vital Farias)
Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas
Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era: fauna, flora, frutos e flores
Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão de ferro, prá comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira
Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá
O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar
e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar
Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, prá onde vai se mudar???
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura
No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave de arribação
Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:
Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
roubou seu lugar
Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração
Aqui termina essa história para gente de valor
prá gente que tem memória, muita crença, muito amor
prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador...
+++++++++++++++++++++++++++
Matança
(Jatobá)
Cipó
caboclo tá subindo na virola
Chegou a hora do pinheiro balançar
Sentir o cheiro do mato da imburana
Descansar morrer de sono na sombra da barriguda
De nada vale tanto esforço do meu canto
Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar
Tal mata Atlântica e a próxima Amazônica
Arvoredos seculares impossível replantar
Que triste sina teve cedro nosso primo
Desde menino que eu nem gosto de falar
Depois de tanto sofrimento seu destino
Virou tamborete mesa cadeira balcão de bar
Quem por acaso ouviu falar da sucupira
Parece até mentira que o jacarandá
Antes de virar poltrona porta armário
Mora no dicionário vida eterna milenar
Quem hoje é vivo corre perigo
E os inimigos do verde da sombra, o ar
Que se respira e a clorofila
Das matas virgens destruídas vão lembrar
Que quando chegar a hora
É certo que não demora
Não chame Nossa Senhora
Só quem pode nos salvar é
Caviúna, cerejeira, baraúna
Imbuia, pau-d'arco, solva
Juazeiro e jatobá
Gonçalo-alves, paraíba, itaúba
Louro, ipê, paracaúba
Peroba, maçaranduba
Carvalho, mogno, canela, imbuzeiro
Catuaba, janaúba, aroeira, araribá
Pau-fero, angico amargoso, gameleira
Andiroba, copaíba, pau-brasil, jequitibá