Por
sugestão de vários amigos que nos acompanham aqui no Artecultural, pesquisamos
sobre os melhores vinhos e como harmonizá-los com vários pratos e até com
sobremesas. Neste trabalho, tivemos a oportunidade de verificar com prazer, que
já temos vinhos nacionais tão bons ou até melhores que muitos importados
Na
matéria abaixo, procuramos saber a opinião de enólogos e sommeliers alguns
conhecidos do grande público, como é o caso de Ed Mota e do apresentador da
Globo, Renato Machado. Obviamente, não temos a pretensão de esgotar o assunto,
mesmo porque, ele é dos mais complexos e várias das opiniões são divergentes
quando se trata de harmonizar vinhos e pratos. Após muita leitura e entrevista
com autoridades no assunto, fica claro que, apesar das etiquetas e das “regras”
que imperam no metier, cada indivíduo deve escolher mesmo é aquele que melhor
se adapta ao seu paladar.
Após o
aumento da renda dos brasileiros verificada nos últimos anos, conjugada com a
queda nos preços dos vinhos, o interesse pela bebida vem crescendo, tornando
cada vez mais comum encontrá-lo nas mesas de diversos restaurantes, até os
menos sofisticados. Não poderia ser diferente. O vinho é a bebida gastronômica
por excelência. Não é por acaso que as grandes mecas da gastronomia (França e
Itália) são também os mais tradicionais países vitivinicultores. Com o vinho,
uma refeição se completa mais do que com qualquer outra bebida. De fato, uma
bela harmonização é uma experiência única, em que ambos, prato e vinho, saem
ganhando e se mostram muito melhores do que desacompanhados.
Com o vinho mais frequente à mesa, é natural que surjam dúvidas sobre a
combinação de vinhos e comidas. Antes de tudo, é preciso ressaltar que não
trataremos aqui de regras ou princípios absolutos pois o excesso de rigor pode
transformar o enófilo em um enochato, ligando o vinho ao esnobismo.
Ninguém deve deixar de tomar um vinho especial porque a combinação não é a
ideal, e nem deixar de considerar o ambiente e a temperatura: um prato que
poderia se dar melhor com um tinto muitas vezes pode ser escoltado por um
branco, se o dia estiver quente ou se esta for a vontade do grupo.
Pode ser
que nesse caso não haja uma verdadeira harmonização, que resulte em acréscimo
às qualidades de cada um, mas desde que não haja incompatibilidade, não há
problema. O que se deve evitar são apenas os “casamentos litigiosos”. Por exemplo,
um peixe de água salgada não deve acompanhar um vinho tânico não porque fere as
regras da etiqueta (que nada tem a ver com harmonização), mas porque a
combinação do sal com os taninos provocam um sabor metálico, desagradável.
Mas, deixando os extremos de lado, a harmonização é um desafio interessante e,
muitas vezes, recompensador. Como dito acima, é fazer um verdadeiro casamento,
em que as partes se completam, de forma sinérgica, em harmonia. Em suma, tal
qual em uma relação saudável, as partes ganham com a soma e se tornam mais que
dois: um realçando as qualidades e virtudes do outro. Ademais, nenhum dos dois
prevalece, ninguém é mais importante: os dois simplesmente se entrelaçam, lado
a lado, em equilíbrio.
Assim como uma pessoa deve se conhecer para se relacionar verdadeiramente com
outra, é imprescindível conhecer as características do vinho (corpo, taninos,
intensidade aromática, dulçor, acidez...) e da comida que se pretende
harmonizar. A coisa se complica um pouco mais, pois a combinação ora pode se dar pela
similaridade, ora por contraste. No primeiro caso, um vinho doce como
acompanhamento de uma sobremesa. No segundo, esse mesmo vinho doce escoltando
um queijo salgado, como um roquefort. Consultar um bom guia é válido, para se ter uma ideia preliminar. Mas o melhor
mesmo é fazer experiências e tirar suas próprias conclusões, lembrando que o
que se busca é o prazer: portanto, nada de beber o que não se gosta só porque
se trata, em tese, de uma harmonização perfeita.

Apenas para facilitar, seguem alguns princípios:
·
Considere o corpo do vinho e do prato. Pratos mais fortes e com
muito sabor pedem vinhos mais encorpados, enquanto para pratos mais delicados,
vinhos mais leves.
·
- Pratos gordurosos e suculentos, como carnes e assados, pedem a tanicidade dos
tintos, contrapondo a secura que eles causam no palato à untuosidade do prato.
A acidez também se contrapõe à gordura e é desejável em pratos em que ela se
faça bem presente.
·
- A intensidade aromática não pode ser esquecida. Pratos com muitas especiarias
pedem vinhos igualmente aromáticos e também com maciez para se contrapor à
sensação das especiarias no palato. Um bom tinto da casta Syrah ou um branco
Gewurztraminer, dependendo do prato, podem ser bons acompanhamentos.
·
- Não se apegue a ela, mas tampouco esqueça a tradição. O vinho de determinada
região, especialmente do velho mundo, muitas vezes é muito apropriado para o
prato típico daquele mesmo local. A ideia é a de que, ao longo do tempo, o
nativo vinifica de tal forma a possibilitar o casamento perfeito, já que nesses
países essa bebida sempre foi pensada para estar à mesa.
·
- Pratos doces pedem vinhos igualmente doces. Aqueles à base de frutas se dão
bem com vinhos brancos doces, como os de colheita tardia. Melhor se tiverem boa
acidez, para não ficar tudo muito enjoativo.
·
- Peixes e frutos do mar, por sua suavidade e acidez, se dão melhor com
brancos. Os peixes de sabor mais forte, como salmão, ou mais temperados são bem
acompanhados por brancos de mais corpo, como chardonnays barricados. Peixes
delicados pedem vinhos acídulos e leves.
·
- Aves e caças variam de acordo com a intensidade do sabor. Patos e coelhos
selvagens se dão bem com tintos de bom corpo e intensidade aromática. Frangos e
perus se casam com brancos de bom corpo ou tintos não muito tânicos e frutados.
·
- Não se esqueça dos molhos e ingredientes, principalmente se ditarem o sabor
predominante no prato.
·
- Espumantes são coringas, realmente. Mas até eles variam em estrutura e
intensidade aromática.
Há alguns alimentos que geram casamentos difíceis. Comida japonesa e seu wasabi
parecem aceitar apenas brancos e espumantes bem acídulos. Chocolate e vinho não
são vistos como amigos, mas um Pedro Ximenes ou um Porto LBV são boas opções e
que se saem melhor que o tradicionalmente recomendando Banyuls, no gosto dos
entendidos do assunto. Todavia, não há como limitar a harmonização a fórmulas e regras exaustivas,
seja pela complexidade que permeia o vinho e a gastronomia, seja porque o gosto
pessoal é um elemento indispensável. Enfim, brinque com as experiências,
esqueça o excesso de formalismo...e bom casamento!
Mesmo existindo regras específicas para harmonizar sabores de um
prato e de um vinho, o fundamental é o equilíbrio entre ambos: o prato e o vinho devem se completar e não se sobrepor.